Manuela Pinto Ângelo
Membro do Secretariado
do Comité Central do PCP

A lei dos partidos e a Lei <br>do financiamento dos partidos

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O Pro­grama do Par­tido afirma que a le­gis­lação an­ti­de­mo­crá­tica sobre os par­tidos po­lí­ticos e o seu fi­nan­ci­a­mento se con­firmam como peças cen­trais na pro­gres­siva per­versão do re­gime de­mo­crá­tico, con­sequência do de­sen­vol­vi­mento do pro­cesso contra-re­vo­lu­ci­o­nário, na sua acção de des­truição das con­quistas de Abril.

A Lei dos Par­tidos e a Lei do Fi­nan­ci­a­mento dos Par­tidos e das Cam­pa­nhas Elei­to­rais cons­ti­tuem um grave ataque a di­reitos, li­ber­dades e ga­ran­tias con­sa­grados na Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa.

São leis an­ti­de­mo­crá­ticas, vi­olam normas e prin­cí­pios cons­ti­tu­ci­o­nais, ferem a li­ber­dade de or­ga­ni­zação po­lí­tica e fi­li­ação em par­tidos po­lí­ticos e cons­ti­tuem um pe­ri­goso passo no sen­tido na con­sa­gração da in­ge­rência do Es­tado na vida in­terna dos par­tidos. São leis in­se­pa­rá­veis do con­ti­nuado pro­cesso de de­gra­dação da de­mo­cracia po­lí­tica e servem a con­so­li­dação do do­mínio cres­cente do poder eco­nó­mico sobre todas as es­feras da vida po­lí­tica e so­cial e têm como ob­jec­tivo im­pedir e re­primir as ex­pres­sões de des­con­ten­ta­mento e luta po­pular e com­bater os que, como o PCP, não se con­formam e as­sumem o le­gí­timo di­reito de con­testar as suas po­lí­ticas e propor al­ter­na­tivas.

Apro­vadas em re­sul­tado de um ver­go­nhoso acordo entre PS, PSD e CDS estas leis visam o PCP, a sua forma de or­ga­ni­zação e re­gras de fun­ci­o­na­mento, e de­sen­ca­dear contra ele um pro­cesso de de­vassa da vida in­terna e de abu­siva li­mi­tação à an­ga­ri­ação dos meios fi­nan­ceiros que lhe per­mita ga­rantir a sua in­ter­venção po­lí­tica.

Com a Lei dos Par­tidos e a co­berto da ideia do des­cré­dito da vida po­lí­tica e do afas­ta­mento de muitos por­tu­gueses de uma par­ti­ci­pação mais ac­tiva nela, PS, PSD e CDS/​PP pre­ten­deram impor ao PCP um «mo­delo único» do­mi­nante nas suas pró­prias formas de or­ga­ni­zação.

Trata-se de uma lei que afronta a livre as­so­ci­ação e in­ter­venção po­lí­tica e o di­reito de os mi­li­tantes, li­vre­mente as­so­ci­ados num par­tido, po­derem de­cidir so­be­ra­na­mente do seu pre­sente e do seu fu­turo, e que pode pôr em causa o di­reito ina­li­e­nável à re­serva das op­ções in­di­vi­duais de cada um.

Trata-se de uma lei que de­fine o re­gime legal de forma a atingir o PCP e li­mitar a sua so­be­rania, ca­rac­te­rís­ticas e fun­ci­o­na­mento de­mo­crá­tico cons­ti­tuindo um sério e in­to­le­rável aten­tado às li­ber­dades e ga­ran­tias de­mo­crá­ticas.

A Lei do Fi­nan­ci­a­mento dos Par­tidos e das Cam­pa­nhas Elei­to­rais acen­tuou o pendor do fi­nan­ci­a­mento pú­blico dos par­tidos, to­tal­mente aliás em con­tra­dição com a po­lí­tica dos go­vernos do PS, PSD e CDS/​PP de des­res­pon­sa­bi­li­zação do Es­tado de im­por­tantes sec­tores eco­nó­micos e so­ciais, de re­dução de sa­lá­rios, pen­sões e re­formas, do roubo de sub­sí­dios e corte nas pres­ta­ções so­ciais e fa­vo­re­ci­mento dos grupos eco­nó­micos e fi­nan­ceiros.

Esta lei de fi­nan­ci­a­mento sob a falsa pre­o­cu­pação de im­primir trans­pa­rência e mo­ra­li­zação na vida po­lí­tica e par­ti­dária, não só não dá res­posta aqueles pro­blemas, como ainda os agrava com os ab­so­lu­ta­mente des­pro­po­si­tados e cho­cantes au­mentos dos mon­tantes das sub­ven­ções es­ta­tais e dos li­mites de des­pesas elei­to­rais, em claro be­ne­fício do PS e do PSD. Ao li­mitar a an­ga­ri­ação de meios fi­nan­ceiros pró­prios, con­sa­grando li­mites para as ini­ci­a­tivas de an­ga­ri­ação de fundos, como é o caso da Festa do Avante! e pe­quenas re­ceitas em nu­me­rário de quotas e con­tri­bui­ções e ainda a de­dução às sub­ven­ções elei­to­rais das con­tri­bui­ções para as cam­pa­nhas, os au­tores desta lei ti­veram em vista as­fi­xiar a ca­pa­ci­dade e in­de­pen­dência fi­nan­ceira do Par­tido.

Nada disto tem a ver com pro­blemas de trans­pa­rência na ob­tenção de fi­nan­ci­a­mentos par­ti­dá­rios, que deve ser ga­ran­tida, mas uma in­to­le­rável li­mi­tação da ac­ti­vi­dade de cada par­tido.

As ina­cei­tá­veis normas cons­tantes da lei do fi­nan­ci­a­mento dos par­tidos e das cam­pa­nhas elei­to­rais são agra­vadas pela forma como a En­ti­dade das Contas, a pro­pó­sito da fis­ca­li­zação das contas, visa não só a sua ve­ri­fi­cação, mas sim através de uma acção as­sente no ar­bí­trio e abuso de poder, fixar exi­gên­cias e pro­ce­di­mentos ar­bi­trá­rios que per­mitam, a pre­texto do in­cum­pri­mento da le­gis­lação, in­tervir co­er­ci­va­mente sobre o Par­tido.

Uma lei que visa di­fi­cultar ou im­pedir uma ac­ti­vi­dade de re­colha de fundos as­sente na ini­ci­a­tiva pró­pria e na con­tri­buição ge­ne­rosa dos mi­li­tantes, apoi­antes e de­mo­cratas, não é uma lei trans­pa­rente, nem é uma lei de­mo­crá­tica.

Uma lei que visa im­pedir ou con­di­ci­onar a re­a­li­zação da maior ini­ci­a­tiva po­lí­tica e cul­tural do País, a nossa Festa do Avante!, e que quer ex­cluir uma le­gí­tima con­cepção de mi­li­tância par­ti­dária, não é uma lei trans­pa­rente nem é uma lei de­mo­crá­tica.

Uma lei que pre­tende im­pedir que haja par­tidos que pre­servem a sua au­to­nomia de fi­nan­ci­a­mento face ao Es­tado e às en­ti­dades pú­blicas, não res­pei­tando a plu­ra­li­dade de­mo­crá­tica, não é uma lei trans­pa­rente nem é uma lei de­mo­crá­tica.

No nosso XIX Con­gresso afir­mamos, como a his­tória de 91 anos de vida e luta do nosso par­tido con­firma, que não nos re­sig­námos e não nos re­sig­na­remos face a estas leis anti-de­mo­crá­ticas e anti-cons­ti­tu­ci­o­nais, como es­teve bem pre­sente pela par­ti­ci­pação de de­zenas de mi­lhares de co­mu­nistas e de­mo­cratas na Marcha Li­ber­dade e De­mo­cracia or­ga­ni­zada pelo Par­tido.

Re­a­fir­mamos que vão con­ti­nuar a ser os mi­li­tantes a de­cidir de forma so­be­rana sobre a or­ga­ni­zação e fun­ci­o­na­mento do Par­tido a que li­vre­mente de­ci­diram aderir, di­reito de que os co­mu­nistas ja­mais ab­di­carão.

Re­a­fir­mamos que estão en­ga­nados aqueles que julgam, uti­li­zando en­vi­e­sados e ina­cei­tá­veis in­tuitos, poder privar o Par­tido dos re­cursos fi­nan­ceiros an­ga­ri­ados, com toda a trans­pa­rência, pelo es­forço pró­prio e pela di­nâ­mica dos seus mi­li­tantes.

Re­a­fir­mamos que o fun­ci­o­na­mento do PCP é in­com­pa­ra­vel­mente mais de­mo­crá­tico que o de qual­quer outro par­tido em Por­tugal, e que o ca­rácter ina­cei­tável da lei dos par­tidos e do seu fi­nan­ci­a­mento co­loca como im­pe­ra­tivo que o nosso Par­tido pros­siga o com­bate exi­gindo a sua re­vo­gação como ob­jec­tivo de luta in­se­pa­rável da luta pela re­jeição do pacto de agressão, pela rup­tura com a po­lí­tica de di­reita, por uma al­ter­na­tiva po­lí­tica, pa­trió­tica e de es­querda, pela de­mo­cracia avan­çada, pelo so­ci­a­lismo e o co­mu­nismo.

In­ter­venção pro­fe­rida no XIX Con­gresso do PCP, re­a­li­zado em Al­mada de 30 de No­vembro a 2 de De­zembro



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